terça-feira, 17 de março de 2009

Pesca do Bacalhau -2ª parte


Não desistiu o capitão Cajeira. Os navios da Empresa de Pesca de Aveiro, por instruções determinantes do seu gerente Egas da Silva Salgueiro – o Senhor Egas - no ano seguinte irão à Groenlândia, ou são bem sucedidos ou amarram. E em 1931 o «Santa Mafalda» do capitão João Pereira Cajeira, o seu gémeo «Santa Isabel» do capitão Manuel dos Santos Labrincha e o «Santa Joana» do João da Cruz largam do Virgin Rocks para a Groenlândia, sem saberem uns dos outros. Ninguém mais se aventurou – nem armadores nem capitães. Andejo, o “Santa Mafalda” leva a reboque o ronceiro “Santa Luzia” do seu amigo capitão Aquiles Bilelo, da empresa de pesca de Viana, enquanto o mau tempo não os separa.
E o “Santa Joana” inicia a viagem no dia 2 de Julho.
Também a saída do «Santa Isabel» do Rocks não passou despercebida. Pois o piloto do «Argus» registou no dia 23 de Julho de 1931: «à tarde o “Santa Isabel” suspendeu seguindo rumo ao N (norte). Calculamos seguir para Greenland.

(Até que…) aos 7 dias do mês de Setembro com um carregamento de peixe salgado e dando por acabada a campanha de pesca, mandou o capitão seguirmos viagem para Portugal com destino a Aveiro».

Avistam-se ancorados, não saíram do Fyllas, o «Santa Mafalda» e o «Santa Luzia»; iça-se a bandeira nacional a tope no mastro da mezena para lhes dar a notícia do regresso. «algumas ilhas de gelo à vista muito frio ».
A 3 dias de viagem, céu muito carregado, muito escuro para o SW» - sinal de vento muito fresco. Ele aí está, zarro, zarro, de força 8 a 9; navio de capa só com a polaca, vela de estai e a vela grande nos segundos rizes.
E no dia 8 de Outubro, ao fim de 31 dias de viagem, ancora o «Santa Joana» em frente à barra de Aveiro, junto do “Santa Mafalda» que fez 27 dias de viagem e também apanhou temporal desfeito - «mar escangalhado de diversos quadrantes – tempo muito tempestuoso, já não sei qual o barco que possa resistir. O navio vai quase sempre submerso».
Divisa-se no horizonte da nossa barra… É um alvoroço em Ílhavo, nas Gafanhas…navio à vista, navio à barra…
- Olha, são os navios da Empresa, são os navios do Egas, conhecem-se tão bem, os calceses brancos, aqueles mastaréus tão altos, o tosado tão acentuado…- são, são e vêm bem pesados, olha trazem o convés na água, vêm carregadinhos – ai, mas quase não trazem dóris, se calhar foram varridos ao mar… - ih cum raio, aquele do norte só se lhe vêm os cabeços à proa, traz a borda toda partida…» .
Mas a barra não tem água suficiente para lhes dar entrada e no dia 10 de Outubro «pelas 10 horas veio o rebocador «Vouga» com o patrão que nos deu ordem para seguir para o Porto».
E com aguaceiros e vento fresco do quadrante de SW «com o pano todo largo puxando para o Porto».
De 43 navios na campanha de 1930, nesta de 1931 só participam 21.
Crise acentuada. Desemprego na classe: muitos pescadores em terra, lá lhes vai valendo a pesca da sardinha, sazonal, as artes do cerco, a pesca da ria. Pilotos chegam a embarcar de marinheiros em navios de comércio, assim tiram as derrotas a vapor; alguns emigram para o Brasil, conseguem a categoria de pilotos brasileiros. Ficam muitos em casa, dois, três anos, sem subsídios a viver das suas economias.
Foi a esperança no futuro, a viagem daqueles quatro lugres à Groenlândia, navegando só à vela, sem planos dos Bancos, desafiando mares desconhecidos – campos de gelo, meteorologia imprevisível: foram na verdade homens de rija têmpera, destemidos aqueles capitães e suas tripulações.

Para consulta de mais imagens pode CLICAR AQUI

(extractos da Revista Oceanos)