terça-feira, 14 de abril de 2009

Moçambique


Quelimane, numa tarde quente de 1966

Eu tenho dois pequeninos
Um casalinho a primor
Tu, Joãozinho, um traquinas,
Tu, Anuchinha, um amor.

O papá manda beijinhos
E um grande abraço apertado
E mil, um milhão de carinhos,
E lágrimas por estar afastado.

O papá está quase sempre
Muito tristinho a pensar,
(Quase não, constantemente)
No dia em que hão-de voltar.

E por isso o tempo agora
Já não passa depressinha.
Cada minuto é uma hora,
Desde manhã à noitinha.

Mas se o papá é bonzinho
Sempre pronto para brincar,
Fica às vezes zangadinho
E põe-se logo a ralhar.

Olha lá, ó Joãozinho,
Olha lá, não sejas mau.
Senão vou aí num instantinho
Num pulo dar-te tautau.

E tu também ouve Anucha
Quando é que tomas juízo?
Pois a pensar só na bucha
Vais dar aí prejuízo…

Pois eu não quero que aí
Façam maldades assim.
Quero que venham para aqui,
Fazê-las ao pé de mim.

Não se esqueçam do recado,
Vão já dizê-lo à mãezinha,
Quero-os aqui ao meu lado
Desde manhã à noitinha.

Do Papá.